domingo, 6 de fevereiro de 2011

A última folha


Tudo começou numa manhã, bem cedo, do outono. Uma amiga minha, Raquel, havia me chamado para ir na casa dela, pois tínhamos combinado de fazer um trabalho. Saí de casa, estava indo a pé mesmo, a casa de Raquel não era tão longe assim.
Estava bem distraída pelo caminho, observando as folhas secas caídas pelo chão. Era realmente maravilhoso. Quando menos percebi, já havia chegado em sua casa. Ela me recebeu e fizemos o trabalho, totalmente cansativo.
Após o trabalho, Raquel sugeriu darmos uma volta, e assim foi. Ela me disse que queria passar numa loja, pois estava com saudades de um amigo que trabalhava lá. Ao chegarmos lá, Raquel, que "não é nada escandalosa", disse alto:
- Léeeeeeeeeeeeo! Quanto tempo! Como vai?
Só depois reparei no garoto. Cabelos castanhos e lisos, olhos escuros, mas não negros. Um sorriso incrivelmente lindo. Realmente, de uma beleza encantadora. Ele abriu um sorriso, e disse:
- Hey Raquel! Estou bem, mas trabalhando muito. E você?
- Ah, estou ótima! Léo, essa aqui é minha amiga, Ana.
Estava tão distraída, que só "acordei" quando escutei meu nome. Léo olhou pra mim, e sinceramente, ficamos pelo menos cinco segundos nos olhando. Raquel ficou com sua típica cara de aprontalhona. Depois disso, Léo me cumprimentou. Fiquei um longo tempo com cara de boba. Demos uma olhada na loja, e saímos.
- Então né, Aninha! Explica o que foi aquilo! - Brincou Raquel.
- Aquilo o que? - Disse nervosa.
- Até parece que eu não percebi! Vocês ficaram se olhando muito tempo!
- Ah, aquilo... - disse guaguejando já - Ué, não foi nada demais. - Contrariei.
- Ah é? Pois quando você estava saindo da loja, Léo ficou olhando pra você um tempão...
- Sério?! - disse animada, não conseguindo disfarçar meu interesse.
- Depois não foi nada de mais, não?
Fiquei em silêncio, realmente, não tinha mais como disfarçar.
Raquel foi para sua casa, e eu estava no caminho da minha. Fiquei pensando no sorriso de Léo, e como se tudo não passasse de mera coincidência, encontrei Léo na rua. Ele me reconheceu, e estava indo em minha direção. Minhas mãos começaram a suar, abri um sorrisão automaticamente, e devia estar da cor de um pimentão.
- Oi Ana! - disse Léo, me cumprimentando.
- Oi Léo! - disse, bem tímida.
- Acabei de sair do trabalho.
- Vai pra casa agora? - disse, estupidamente.
- Vou sim, não é muito longe daqui. Só virando essa rua. - disse Léo, apontando para a direção.
- Eu também estou indo para essa direção! - disse surpresa - Aceita uma companhia para o caminho? - disse envergonhada.
- Que coincidência! - ele deu uma risada - Mas é claro que sim.
Como já não bastasse ser lindo, tinha que ser um doce? Enfim... Foi perfeito. Andamos lado a lado, conversando sobre tudo e todos. Rimos, brincamos. Até que uma coisa lhe chamou atenção.
- Sabe essa praça? - apontou Léo - Quando criança, ficava correndo por aqui, e brincava com as folhas secas do outono. - relembrou.
- Vamos parar um pouco de andar e ir na praça? - disse.
- Leu meus pensamentos - disse Léo, rindo.
Fomos até a praça, e eu, como de costume, me deitei no chão, coberto de folhas. Léo ficou me encarando, até que decidiu fazer o mesmo. Não demorou muito para os dois bobões começarem a fazer "guerra de folhas". Ficamos um longo tempo rindo do ocorrido. Depois de rir, ficamos quietos. Apenas se escutava o som do vento. E como se não bastasse, ficamos nos olhando. Apenas em silêncio. Não dá para negar que teve um clima naquele momento, né?
- Bom... é melhor a gente ir! Daqui a pouco vem uma chuva. - disse Léo, meio perdido, se levantando.
- É... - disse.
Continuamos andando, mas dessa vez, sem dizer nada. Nos despedimos. Entrei em casa, e ele seguiu o caminho para a sua. A cena foi típica dos filmes americanos, em que a garota entra no quarto praticamente sendo levantada por coraçõezinhos. Não pude negar que ele mexeu comigo. Sempre fui do tipo que se apaixona fácil, mas com Léo... foi maravilhoso.
No dia seguinte, me arrumei para ir pra escola. O final de semana havia acabado, e voltei para a rotina. Estava saindo de casa, quando encontro... Léo! Dessa vez foi uma surpresa mesmo. Como a escola era bem perto do seu trabalho, fomos juntos, conversando.
Foi assim durante dias e dias. E cada momento que eu passava ao seu lado eu tinha mais certeza que estava apaixonada. Passamos a nos ver todos os dias, e já estava até desconfiada que ele sentia algo também.
Até que teve um dia que não o vi, e estranhei. Mas fui sozinha assim mesmo. Passei em frente a loja de Léo, como de costume e ele já estava lá. Ele foi mais cedo. Léo estava com um amigo e escutei a conversa.
- Então Léo, quem é aquela garota que você está todo dia? - perguntou o amigo.
- A loura? Ah, não é ninguém. Ela só quer que eu vá junto com ela para todos os lugares. - disse Léo, numa tranquilidade.
Ao ouvir essas palavras, não me segurei. Foi como se tudo não bastasse de uma grande perda de tempo. Eu não significava nada. Quando menos percebi já estava chorando. E muito. E simplesmente percebi como pequenas palavras formam grandes feridas, que parecem nunca curar-se. Andei um pouco para trás, entrei na loja e disse:
- Léo, você poderia ter me avisado tudo isso antes. Concerteza teria sido muito melhor para mim e para você. Antes não tivéssemos vivido esses momentos, que como você disse, não significaram nada.
Léo não sabia o que dizer. Ficou ali, parado. Depois de dizer o que precisava, sai da loja, chorando muito. Todo aquele sentimento que foi crescendo ali, se despedaçou em questão de segundos, e foi inteiramente coberto por um sentimento de decepção. Inacreditável. Corri para a praça, me deitei naquela grama coberta de folhas e deixei todas as lágrimas caírem. Até que escutei passos quebrando as folhas secas e senti alguém deitando-se ao meu lado, e escutei a voz de Léo:
- Eu tive medo de me apaixonar de verdade. - disse Léo, com uma voz trêmula e triste - eu tive medo de me apaixonar por você. Eu tive medo de não dar a você o que você merece. Por um longo tempo, menti para eu mesmo sobre meus sentimentos. Você é tão doce, tão linda, tão... perfeita. Mas não me controlei Ana, eu já tinha certeza do que sentia por você.
Eu não estava acreditando nas palavras que escutei. Apenas me virei para ele e abri um sorriso. Mas dessa vez nossos olhares não duraram tanto tempo. Ele colocou suas mãos em meu rosto e me beijou do jeito mais doce. Apenas um beijo pra curar todas as feridas formadas. Apenas um beijo para fazer de um Outono, tornar-se o melhor Outono de todos.

Um comentário: